segunda-feira, 18 de setembro de 2017

O Ministério Público e o Preservação do Patrimônio Artístico e Cultural Católico

Igreja do Rosário, em Tocantins, MG, recém restaurada



 Nunca se pensou que o patrimônio de arte sacra fosse tão importante e que, por isso, é  protegido pela legislação brasileira.  Comete crimes quem o danifica  ou  dele descuida.



O Ministério Público  pode, e deve, ser acionado em casos onde são observados bens artísticos e culturais católicos (assim como outros de outras origens) estiverem ameaçados de extinção ou de descaracterização. Foi o que ficou claro  na conferência  dada pelo Procurador Geral do Estado de São Paulo, Dr. Gianpaolo Smanio, no Simpósio “Preservação do Patrimônio Artístico & Cultural Católico, acontecido nos dias 25 e 26 de agosto de 2017, no Teatro TUCA, anexo à Pontifícia Universidade Católica (PUC), em São Paulo, SP.

 Ele proferiu a conferência: ”A preservação do patrimônio artístico católico: análise de uma realidade”, que trouxe conhecimentos importantes, e indispensáveis, relativos ao entendimento jurídico e à atuação do Ministério Público a respeito dos bens artísticos e culturais católicos, de acordo com as leis do Brasil. 

Segundo ele, os termos do Acordo Brasil-Santa Sé efetuado entre as autoridades mais altas dos Estados Brasil e Vaticano, são considerados como  integrantes da lei brasileira, e que seus artigos mais relevantes são o 6⁰ e o 7⁰: 

"Artigo 6º 

As Altas Partes reconhecem que o patrimônio histórico, artístico e cultural da Igreja Católica, assim como os documentos custodiados nos seus arquivos e bibliotecas, constituem parte relevante do patrimônio cultural brasileiro, e continuarão a cooperar para salvaguardar, valorizar e promover a fruição dos bens, móveis e imóveis, de propriedade da Igreja Católica ou de outras pessoas jurídicas eclesiásticas, que sejam considerados pelo Brasil como parte de seu patrimônio cultural e artístico. 

§ 1º. A República Federativa do Brasil, em atenção ao princípio da cooperação, reconhece que a finalidade própria dos bens eclesiásticos mencionados no caput deste artigo deve ser salvaguardada pelo ordenamento jurídico brasileiro, sem prejuízo de outras finalidades que possam surgir da sua natureza cultural.  

§ 2º. A Igreja Católica, ciente do valor do seu patrimônio cultural, compromete-se a facilitar o acesso a ele para todos os que o queiram conhecer e estudar, salvaguardadas as suas finalidades religiosas e as exigências de sua proteção e da tutela dos arquivos.”

Artigo 7º 

A República Federativa do Brasil assegura, nos termos do seu ordenamento jurídico, as medidas necessárias para garantir a proteção dos lugares de culto da Igreja Católica e de suas liturgias, símbolos, imagens e objetos cultuais, contra toda forma de violação, desrespeito e uso ilegítimo.

§ 1º. Nenhum edifício, dependência ou objeto afeto ao culto católico, observada a função social da propriedade e a legislação, pode ser demolido, ocupado, transportado, sujeito a obras ou destinado pelo Estado e entidades públicas a outro fim, salvo por necessidade ou utilidade pública, ou por interesse social, nos termos da Constituição brasileira.”


O acordo assegura que os bens culturais e artísticos da Igreja Católica são parte integrante do patrimônio cultural brasileiro, embora sejam tutelados pela Igreja, que deve manter e propiciar o acesso de todos os que se interessarem por eles. 

Em contrapartida o Brasil assegura as medidas necessárias para a preservação de tudo o que diz respeito aos bens católicos e do seu uso. Deve proteger o patrimônio, os locais onde eles estão e até o patrimônio imaterial.

Dr. Gianpaolo explicou que o patrimônio artístico e cultural católico está sob outras normas da lei brasileira porque é integrante do nosso patrimônio etnográfico, ou seja, o patrimônio da cultura católica faz parte da formação da identidade do povo brasileiro. Seus costumes estão no acervo cultural do nosso povo desde o descobrimento do Brasil e enraizados à vida cultura de toda a nação. Esse patrimônio, portanto, pertence a todos os brasileiros, e não apenas aos católicos.

Assim sendo, o cuidado com esse acervo, que é integrante  do patrimônio etnográfico  do Brasil, está regido pela lei de proteção do meio ambiente, porque é considerado como meio ambiente cultural, ao qual, além do valor artificial relativo às construções é agregado um valor histórico, artístico e religioso. Por tal motivo, toda proteção legislativa referente ao meio ambiente se aplica juridicamente ao patrimônio católico.  Porque, embora seja um ambiente cultural religioso, ele não se esgota no sentido da religião , mas abrange à toda a população do País, no que se refere à proteção integral do ser humano. Esses bens do acervo católico são relativos a integrantes dos grupos formadores da identidade brasileira.

Por esse motivo, o Estado tem o dever de preservar esse patrimônio para as gerações futuras, que têm o direito ao conhecimento dos trabalhos representativos dos seus antepassados.

O mesmo tratamento dado aos poluidores dos rios e do meio ambiente natural é aplicado a quem atua contra os bens do patrimônio artístico e cultural católico e causa danos a terceiros atingidos por suas ações; com o agravante de que pode também responder por danos morais, uma vez que além dos danos causados ao patrimônio físico, sua ação atinge também o valor moral (do sentido religioso) que aquele bem representa para muitas pessoas.

Cabe também a reparação difusa de dano moral coletivo quanto ao que representa de valor a algo que pertence à coletividade. Isso se aplica a quem tem responsabilidade de cuidar e manter esses bens.   Comete prevaricação, o não cuidado para evitar que o dano ocorra, as pessoas ou órgãos responsáveis por eles que deles descurar.

A Constituição diz com clareza que todos têm responsabilidades na preservação desses bens; tanto o Município, o Estado quanto a União.

Diante disso, ainda que um bem não esteja tombado pelo  IPHAN (Instituto do Patrimônio Artístico  Nacional), o Ministério Publico pode ser acionado para estabelecer um inquérito civil ou uma ação civil pública em defesa de qualquer item do que seja considerado histórico, artístico ou culturalmente importante para uma coletividade  e que se encontra em situação de risco. A proteção ocorre pelo valor do bem, o tombamento é apenas a sacralização do valor.

Segundo o Dr. Gianpaolo, o Ministério Publico de Minas Gerais tem um  manual básico de segurança e conservação do patrimônio cultural sacro.  Disse também que o Ministério Público está à disposição da população para orientar e agir em defesa de riquezas coletivas relacionadas ao patrimônio cultural sacro. Para isso conta a ajuda das pessoas, especialmente  profissionais e entidades públicas para localizar os locais a serem preservados.

Assim sendo, o cuidado com esse acervo, que é integrante  do patrimônio etnográfico  do Brasil, está regido pela lei de proteção do meio ambiente, porque é considerado como parte do meio ambiente cultural, ao qual, além do valor artificial relativo às construções é agregado um valor histórico, artístico e religioso. 

Links complementares:

Simpósio "Preservação do Patrimônio Artístico & Cultural Católico. São Paulo Agosto 2017


Documento final da Assembleia  Plenária do Pontifício Conselho para a Cultura, realizada em março de 2006  - A Via Pulchritudinis

O acordo Brasil-Santa Sé

MENSAGEM DO PAPA BENTO XVI AO PRESIDENTE DO PONTIFÍCIO CONSELHO PARA A CULTURA POR OCASIÃO DA 13ª SESSÃO PÚBLICA DEDICADA AO TEMA: "UNIVERSALIDADE DA BELEZA: CONFRONTO ENTRE ESTÉTICA E ÉTICA"





MENSAGEM DO PAPA BENTO XVI 
AO PRESIDENTE DO PONTIFÍCIO CONSELHO 
PARA A CULTURA POR OCASIÃO 
DA 13ª SESSÃO PÚBLICA DEDICADA AO TEMA:
"UNIVERSALIDADE DA BELEZA: CONFRONTO 
ENTRE ESTÉTICA E ÉTICA"



Ao venerado Irmão D. Gianfranco Ravasi
Presidente do Pontifício Conselho para a Cultura

É-me grato transmitir-lhe, bem como ao Conselho de Coordenação das Pontifícias Academias, a minha cordial saudação por ocasião da sessão pública anual, tradicional encontro para dar ênfase às actividades promovidas com empenho e generosa dedicação por cada uma das Academias, e momento de encontro e de partilha entre diversas Instituições, animadas por uma finalidade comum: servir a pessoa humana, para ressaltar o esplendor e as responsabilidades, a harmonia e a missão. 

Estou feliz por saudar os Senhores Cardeais, os Bispos, os Sacerdotes, os Senhores Embaixadores e os Representantes de cada uma das Pontifícias Academias reunidas para este acto solene e familiar.


Para esta 13ª sessão pública das Pontifícias Academias, a Pontifícia Insigne Academia de Belas-Artes e Letras dos Virtuosos no Panteão, que neste ano organiza o acontecimento, escolheu como tema: Universalidade da beleza: confronto entre estética e ética, um tema muito significativo para aprofundar a relação, ou melhor, o diálogo entre estética e ética, entre beleza e agir humano, diálogo tanto necessário quanto por vezes esquecido ou eludido.

A necessidade e a urgência de um renovado diálogo entre estética e ética, entre beleza, verdade e bondade, são-nos repropostas não apenas pelo actual debate cultural e artístico, mas também pela realidade quotidiana. 

Com efeito, a vários níveis sobressaem dramaticamente a separação, e às vezes o contraste entre as duas dimensões, a da busca da beleza, mas compreendida de modo redutivo como forma exterior, como aparência que se procura a todo o custo, e a da verdade e da bondade das acções que se realizam para alcançar uma certa finalidade. 

Com efeito, uma busca da beleza que fosse alheia ou separada da busca humana da verdade e da beleza transformar-se-ia, como infelizmente acontece, em mero esteticismo e, sobretudo para os mais jovens, num itinerário que termina no efémero, na aparência banal e superficial, ou até numa fuga para paraísos artificiais, mas ocultam e escondem o vazio e a inconsistência interior. 

Sem dúvida, esta busca aparente e superficial não teria um alcance universal, mas inevitavelmente seria apenas subjectiva, ou até individualista, para terminar às vezes até na incomunicabilidade.

Sublinhei várias vezes a necessidade e o compromisso de uma ampliação dos horizontes da razão, e nesta perspectiva é necessário voltar a compreender também o íntimo nexo que une a busca da beleza à busca da verdade e da bondade. Uma razão que quisesse despojar-se da beleza ficaria reduzida a metade, assim como uma beleza desprovida de razão se reduziria a uma máscara vazia e ilusória. 

No encontro com o Clero da Diocese de Bressanone, no passado dia 6 de Agosto, dialogando precisamente sobre a relação entre beleza e razão, fiz notar que devemos ter em vista uma razão muito ampliada, em que coração e razão se encontram, beleza e verdade se tocam. Se este compromisso é válido para todos, ainda mais o é para o crente, para o discípulo de Cristo, chamado pelo Senhor a "explicar" a todos a beleza e a verdade da própria fé. 

No-lo recorda o Evangelho de Mateus, onde lemos o apelo dirigido por Jesus aos seus discípulos: "Assim resplandeça a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas obras boas e glorifiquem o vosso Pai que está nos céus" (Mt 5, 16). 

Há que observar que no texto grego se fala de kalá erga, de obras belas e ao mesmo tempo boas, porque a beleza das obras manifesta e exprime, numa síntese excelente, a bondade e a verdade profunda do gesto, assim como a coerência e a santidade de quem o realiza. 

A beleza das obras de que fala o Evangelho vai mais além, remete para outra beleza, verdade e bondade que somente em Deus têm a sua perfeição e a sua nascente última.

Então, o nosso testemunho deve nutrir-se desta beleza, o nosso anúncio do Evangelho deve ser percebido na sua beleza e novidade, e por isso é necessário saber comunicar com a linguagem das imagens e dos símbolos; a nossa missão quotidiana deve tornar-se eloquente transparência da beleza do amor de Deus, para alcançar eficazmente os nossos contemporâneos, muitas vezes distraídos e absorvidos por um clima cultural nem sempre propenso a acolher uma beleza em plena harmonia com a verdade e a bondade, mas contudo sempre desejosos e nostálgicos de uma beleza autêntica, não superficial e efémera.

Isto sobressaiu também durante o recente Sínodo dos Bispos, convocado para reflectir sobre o tema: A Palavra de Deus na vida e na missão da Igreja. Diversas intervenções evidenciaram o valor perene de um "bom testemunho" para o anúncio do Evangelho, salientando a importância do saber ler e perscrutar a beleza das obras de arte, inspiradas pela fé e promovidas pelos crentes, para aí descobrir um singular itinerário que aproxima de Deus e da sua Palavra.

Em seguida, na Mensagem conclusiva, dirigida pelos Padres sinodais a todos os crentes, insiste-se sobre a bondade e a eficácia da via pulchritudinis, um dos possíveis itinerários, talvez o mais atraente e fascinante, para compreender e alcançar Deus. 

No mesmo documento recorda-se a Carta aos Artistas, do meu venerado Predecessor, o Servo de Deus João Paulo II, que convidava a reflectir sobre o diálogo íntimo e fecundo entre a Sagrada Escritura e as diversas formas artísticas, das quais nasceram inúmeras obras-primas.

 Nesta ocasião, gostaria de sugerir que se retome nas mãos esta Carta, dez anos depois da sua publicação, para dela fazer objecto de uma renovada reflexão sobre a arte, sobre a criatividade dos artistas, e sobre o fecundo e problemático diálogo entre estes e a fé cristã, vivida na comunidade dos fiéis. 

Estimados Académicos e Artistas, dirijo-me de forma particular a vós porque precisamente esta é a vossa tarefa, a vossa missão: suscitar admiração e desejo da beleza, formar a sensibilidade das almas e alimentar a paixão por tudo aquilo que é autêntica expressão do génio humano e reflexo da Beleza divina.

Prezados irmãos e irmãs, o Prémio das Pontifícias Academias, instituído pelo meu venerado Predecessor, o Papa João Paulo II, tem uma sua finalidade peculiar: suscitar novos talentos em vários campos do saber e encorajar o compromisso de jovens estudiosos, artistas e instituições que dedicam a sua actividade à promoção do humanismo cristão. 

Portanto, acolhendo a proposta formulada pelo Conselho de Coordenação das Pontifícias Academias, nesta solene sessão pública sinto-me verdadeiramente feliz por que seja atribuído o Prémio das Pontifícias Academias ao Dr. Daniele Piccini, que se distinguiu pelo seu compromisso, tanto no estudo crítico da poesia e da literatura particularmente da italiana das origens e do Renascimento como pela sua militância activa no campo poético, expressa nalgumas significativas colectâneas.

Além disso, estou feliz por que, como sinal de apreço e de encorajamento, se ofereça uma Medalha do Pontificado ao Dr. Giulio Catelli, jovem pintor, pela sua investigação artística, já apreciada pela crítica de arte; e também à Fundação "Stauròs Italiana, Onlus", para a realização do Museu de arte Sacra Contemporânea e para a organização da Bienal de Arte Sacra, encontro já tradicional para os artistas que se comprometem no sector da Arte Sacra.

Enfim, gostaria de manifestar a todos os Académicos, e especialmente aos membros da Pontifícia Insigne Academia de Belas-Artes e Letras dos Virtuosos no Panteão, a minha profunda estima pela actividade levada a cabo, e expressar os bons votos de um compromisso apaixonado e criativo, sobretudo no campo artístico, para promover nas culturas contemporâneas um novo humanismo cristão, que saiba percorrer com clarividência e decisão o caminho da beleza genuína. 

Com estes sentimentos, confio cada um de vós, bem como a vossa preciosa obra de estudo e de investigação criativa, à salvaguarda materna da Virgem Maria que, com toda a Igreja, invocamos como Tota Pulchra, a Toda Bela, e concedo-lhe de coração, Senhor Presidente, e a todos os presentes, uma especial Bênção apostólica.

Vaticano, 24 de Novembro de 2008.

BENEDICTUS PP. XVI


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domingo, 17 de setembro de 2017

DISCURSO DO PAPA BENTO XVI POR OCASIÃO DO ENCONTRO COM OS ARTISTAS NA CAPELA SISTINA



DISCURSO DO PAPA BENTO XVI
POR OCASIÃO DO ENCONTRO 
COM OS ARTISTAS NA CAPELA SISTINA
Sábado, 21 de Novembro de 2009

Senhores Cardeais 
Venerados Irmãos no Episcopado 

e no Sacerdócio 

Ilustres Artistas 

Senhoras e Senhores!



É com grande alegria que vos recebo neste lugar solene e rico de arte e de memórias. Dirijo a todos e a cada um a minha cordial saudação, e agradeço-vos por terdes aceite o meu convite. Com este encontro desejo expressar e renovar a amizade da Igreja com o mundo da arte, uma amizade consolidada no tempo, porque o Cristianismo, desde as suas origens, compreendeu bem o valor das artes e utilizou sabiamente as suas multiformes linguagens para comunicar a sua imutável mensagem de salvação. 

Esta amizade deve ser continuamente promovida e apoiada, para que seja autêntica e fecunda, adequada aos tempos e tenha em consideração as situações e as mudanças sociais e culturais. Eis o motivo deste nosso encontro. Agradeço de coração a D. Gianfranco Ravasi, Presidente do Pontifício Conselho para a Cultura  e da Pontifícia  Comissão para os Bens Culturais da Igreja por o ter promovido e preparado, com os seus colaboradores, assim como pelas suas palavras que há pouco me dirigiu. Saúdo os Senhores Cardeais, os Bispos, os Sacerdotes e as distintas Personalidades aqui presentes. 

Agradeço também à Pontifícia Capela Musical Sistina que acompanha este momento significativo. Os protagonistas deste encontro sois vós, queridos e ilustres Artistas, pertencentes a países, culturas e religiões diversas, talvez até distantes de experiências religiosas, mas desejosos de manter viva uma comunicação com a Igreja católica e de não limitar os horizontes da existência unicamente à materialidade, a uma visão redutiva e banalizadora. Vós representais o mundo variegado das artes e, precisamente por isso, através de vós gostaria de fazer chegar a todos os artistas o meu convite à amizade, ao diálogo e à colaboração.


Algumas circunstâncias significativas enriquecem este momento. Recordamos o décimo aniversário da Carta aos Artistas do meu venerado predecessor, o Servo de Deus João Paulo II. Pela primeira vez, na vigília do Grande Jubileu do Ano 2000, este Pontífice, também ele artista, escreveu directamente aos artistas com a solenidade de um documento papal e o tom amistoso de uma conversa entre "quantos – como recita a carta – com apaixonada dedicação, procuram novas "epifanias" da beleza". 


O mesmo Papa, há vinte e cinco anos, proclamou padroeiro dos artistas o Beato Angélico, indicando nele um modelo de perfeita sintonia entre fé e arte. Depois, o meu pensamento vai ao dia 7 de maio de 1964, há quarenta e cinco anos, quando, neste mesmo lugar se realizava um histórico acontecimento, fortemente querido pelo Papa Paulo VI para reafirmar a amizade entre a Igreja e as artes. 

As palavras que pronunciou naquela circunstância ressoam ainda hoje debaixo da abóbada desta Capela Sistina, tocando o coração e o intelecto. "Nós temos necessidade de vós – disse ele –. O nosso ministério precisa da vossa colaboração. Porque, como sabeis, o nosso ministério é pregar e tornar acessível e compreensível, aliás comovedor, o mundo do espírito, do invisível, do inefável, de Deus. E nesta operação... vós sois mestres. É a vossa profissão, a vossa missão; e a vossa arte é extrair do céu do espírito os seus tesouros e revesti-los de palavra, de cores, de formas de acessibilidade" (Insegnamenti II, [1964], 313). 

Era tanta a estima de PauloVI pelos artistas que o estimulou a formular expressões deveras ousadas: "E se a nós viesse a faltar o vosso auxílio – prosseguia – o ministério tornar-se-ia balbuciante  e incerto e teria necessidade de fazer um esforço, diríamos, por se tornar ele mesmo artístico, aliás por se tornar profético.


Para se elevar à força de expressão lírica da beleza intuitiva, teria necessidade de fazer coincidir o sacerdócio com a arte" (Ibid., 314). Naquela circunstância, Paulo VI assumiu o compromisso de "restabelecer a amizade entre a Igreja e os artistas", e pediu-lhes que o fizessem seu e o partilhassem, analisando com seriedade e objectividade os motivos que tinham perturbado essa relação e assumindo cada um com coragem e paixão a responsabilidade de um renovado e aprofundado percurso de conhecimento e de diálogo, em vista de um ”renascimento" autêntico da arte, no contexto de um novo humanismo.

ENCONTRO DO PAPA BENTO XVI COM O CLERO DE BOLZANO-BRESSANONE (ITÁLIA)



Em 6 de agosto de 2008, o papa Bento XVI participou de um encontro com  o clero de Bolzano- Bressanone, na Itália. Ele respondeu a diversas perguntas dos participantes, entre elas consideramos que estas duas são relevantes para o  estudo da importância do acervo  artístico e cultural  católico, uma relativa ao passado e outra que fala das preocupações do presente. Observemos que as duas respostas convergem para o seio da  Mãe Igreja que sustenta a humanidade com a Sabedoria e o Amor de Cristo Jesus.

Pe. Willibald Hopfgartner, O.F.M.

Santo Padre, chamo-me Willibald Hopfgartner, sou franciscano e trabalho na escola e em vários âmbitos de guia da Ordem. No seu Discurso de Regensburg, Vossa Santidade sublinhou o vínculo substancial entre o Espírito divino e a razão humana. Por outro lado, também sempre ressaltou a importância da arte e da beleza, da estética. Então, juntamente com o diálogo conceitual sobre Deus (na teologia), não deveria ser sempre de novo reiterada a experiência estética da fé no âmbito da Igreja, para o anúncio e a liturgia?


Santo Padre

Obrigado. Sim, penso que estas duas categorias caminham juntas: a razão, a exactidão, a honestidade da reflexão sobre a verdade e a beleza. Uma razão que de alguma forma quisesse despojar-se da beleza, ficaria reduzida a metade, seria uma razão obcecada. Só as duas categorias unidas formam o conjunto, e precisamente para a fé esta união é importante. 

A fé deve enfrentar continuamente os desafios do pensamento desta época, a fim de que ela não se pareça com um tipo de lenda irracional que nós conservamos viva, mas que seja verdadeiramente uma resposta às grandes interrogações; a fim de que não seja apenas hábito, mas verdade – como certa vez pôde dizer Tertuliano. São Pedro, na sua primeira Carta, tinha escrito aquela frase que os teólogos na Idade Média fizeram legitimamente sua, quase como um encargo para o seu trabalho teológico: "Estai sempre prontos a explicar a razão do sentido da vossa esperança" – apologia do logos da esperança, ou seja, a transformação do logos, da razão da esperança da apologia, numa resposta aos homens. Evidentemente, ele estava persuadido do facto de que a fé é logos, que ela é uma razão, uma luz que provém da Razão criadora, e não uma grande mistura, fruto do nosso pensamento. E eis por que motivo é universal, por isso pode ser comunicada a todos.

Mas precisamente este logos criador não é somente um logos técnico – voltaremos a falar sobre este aspecto com uma outra resposta – é amplo, é um logos que é amor e por conseguinte pode exprimir-se na beleza e no bem. E, na realidade, uma vez disse que para mim, a arte e os Santos constituem a maior apologia da nossa fé. Os argumentos apresentados pela razão são absolutamente importantes e irrenunciáveis, mas depois, sob certos aspectos permanece sempre a dissensão. 

Contudo, se contemplamos os Santos, este grande rasto luminoso com que Deus atravessou a história, vemos que ali verdadeiramente existe uma força do bem que resiste ao longo dos milénios, ali existe verdadeiramente a luz da luz. E do mesmo modo, se contemplamos as belezas criadas pela fé, eis que diria são simplesmente a prova viva da fé. Se olho esta bonita catedral, vejo que é um anúncio vivo! Ela mesma nos fala, e iniciando da beleza da catedral conseguimos anunciar visivelmente Deus, Cristo e todos os seus mistérios: aqui eles adquiriram forma e olham-nos. Todas as grandes obras de arte, as catedrais – as catedrais góticas e as maravilhosas igrejas barrocas – todas constituem um sinal luminoso de Deus e, portanto, são verdadeiramente uma manifestação, uma epifania de Deus. E no Cristianismo trata-se precisamente desta epifania: que Deus se tornou uma Epifania – oculta aparece e resplandece. 

Acabamos de ouvir o órgão em todo o seu esplendor, e na minha opinião a grande música que nasceu na Igreja consiste em tornar audível e perceptível a verdade da nossa fé: desde o gregoriano até à música das catedrais, e até Palestrina e à sua época, até Bach e portanto a Mozart e Bruckner, e assim por diante... Ouvindo todas estas obras – as Paixões de Bach, a sua Missa em Si bemol e as grandes composições espirituais da polifonia do século XVI, da escola vienense, de toda a música, inclusive daquela dos compositores menores – repentinamente sentimos: é verdade! Onde nascem realidades deste tipo existe a Verdade. 

Sem uma intuição que descubra o verdadeiro centro criativo do mundo, tal beleza não pode nascer. Por isso, penso que deveríamos fazer com que estas duas categorias permanecessem sempre juntas, levando-as unidas entre si. Quando, nesta nossa época, discutimos sobre a racionalidade da fé, debatemos precisamente sobre o facto de que a razão não termina onde se concluem as descobertas experimentais, pois ela não termina no positivismo; a teoria da evolução vê a verdade, mas vê somente metade da mesma: não vê que por detrás existe o Espírito da criação. 

Nós lutamos pela ampliação da razão e, portanto, por uma razão que, precisamente, esteja aberta também à beleza e não tenha que a deixar de lado, como algo totalmente diferente e irracional. A arte cristã é uma arte racional – pensemos na arte do gótico, ou então na grande música ou também, precisamente, na nossa arte barroca – mas constitui uma expressão artística de uma razão muito ampliada, na qual se encontram o coração e a razão. Eis a questão. Na minha opinião, esta é de certa maneira a prova da verdade do Cristianismo: coração e razão encontram-se, beleza e verdade tocam-se. E quanto mais nós conseguirmos viver na beleza da verdade, tanto mais a fé poderá voltar a ser criativa também no nosso tempo e a exprimir-se numa forma artística convincente.

Então, estimado Padre Hopfgartner, obrigado pela pergunta; procuremos fazer com que as duas categorias, a estética e a noética, permaneçam unidas, e que nesta grande amplidão se manifeste a integridade e a profundidade da nossa fé.


Pe. Karl Golser


Santo Padre! Chamo-me Karl Golser, sou professor de teologia moral aqui em Bressanone e inclusive director do Instituto para a justiça, a paz e a salvaguarda da criação; também sou cónego. Apraz-me recordar o período em que pude trabalhar com Vossa Santidade na Congregação para a Doutrina da Fé.

Como Vossa Santidade sabe, a Igreja católica forjou profundamente a história e a cultura do nosso país. No entanto, às vezes hoje temos a sensação de que, como Igreja, nos retiramos um pouco na sacristia. As declarações do magistério pontifício a respeito das grandes problemáticas sociais não encontram a justa correspondência a níveis de paróquias e de comunidades eclesiais.

Aqui no Alto Ádige, por exemplo, as autoridades e muitas associações chamam vigorosamente a atenção para os problemas ambientais, e de modo particular a respeito das mudanças climáticas: os principais temas são o derretimento das geleiras, os desabamentos na montanha, os problemas do custo da energia, o trânsito e a poluição atmosférica. São numerosas as iniciativas a favor da salvaguarda do meio ambiente.

No entanto, na consciência média dos nossos cristãos tudo isto tem muito pouco a ver com a fé. O que podemos fazer para incutir mais vigorosamente na vida das comunidades cristãs o sentido de responsabilidade em relação à criação? Como podemos chegar a ver cada vez mais unidas, a Criação e a Redenção? Como podemos viver de modo exemplar um estilo de vida cristão, que seja duradouro? E como podemos uni-lo a uma qualidade de vida, que seja atraente para todos os homens da nossa terra?


Santo Padre

Estou-lhe profundamente grato, estimado Professor Golser: sem dúvida, o senhor poderia responder muito melhor do que eu a tais questões, mas seja como for, procurarei dizer algo. 

Portanto, o senhor referiu-se ao Tema da Criação e da Redenção, e julgo que este vínculo inseparável deve receber muito relevo. Ao longo das últimas décadas, a doutrina da Criação tinha praticamente desaparecido na teologia, era quase imperceptível. Agora damo-nos conta dos prejuízos que daqui derivam. O Redentor é o Criador, e se nós não anunciarmos Deus nesta sua grandeza total – de Criador e de Redentor – tiraremos valor também da Redenção. 

Com efeito, se Deus nada tem a dizer na Criação, se é simplesmente relegado a um âmbito da história, como pode realmente compreender toda a nossa vida? Como poderá trazer verdadeiramente a salvação para o homem na sua integridade e para o mundo na sua totalidade? Eis por que motivo para mim, a renovação da doutrina da Criação e uma nova compreensão da inseparabilidade entre Criação e Redenção reveste uma grandíssima importância. 

Temos que reconhecer mais uma vez: Ele é o Creator Spiritus, a Razão que está no princípio e da qual tudo nasce e da qual a nossa razão não é senão uma centelha. E é Ele, o próprio Criador, que também entrou na história e pode entrar na história e agir no seu interior precisamente porque Ele é o Deus da totalidade e não unicamente de uma parte. Se reconhecermos isto, daqui derivará obviamente que a Redenção, o facto de sermos cristãos, simplesmente a fé cristã hão-de significar sempre e de qualquer maneira também responsabilidade em relação à Criação. 

Há vinte-trinta anos acusavam-se os cristãos – não sei se esta acusação ainda é mantida – de serem os verdadeiros responsáveis pela destruição da Criação, porque a palavra contida no Génesis – "Dominai a terra" – teria levado àquela arrogância em relação à criação, cujas consequências hoje em dia podemos experimentar. Na minha opinião, temos que aprender novamente a compreender esta acusação em toda a sua falsidade: enquanto a terra era considerada criação de Deus, a tarefa de "dominá-la" nunca fora compreendida como um mandato de a tornar escrava, mas sobretudo como tarefa de ser guardiães dos dons da criação e de os desenvolver; de colaborarmos, nós mesmos, de modo activo para a obra de Deus, para a evolução que Ele inseriu no mundo, de tal maneira que as dádivas da criação sejam valorizadas e não espezinhadas nem destruídas.

Se observamos aquilo que nasceu ao redor dos mosteiros, como naqueles lugares nasceram e ainda continuam a nascer pequenos paraísos, oásis da criação, torna-se evidente que tudo isto não são só palavras, mas onde a Palavra do Criador foi compreendida de uma maneira correcta, onde houve vida com o Criador Redentor, ali houve compromisso em vista de salvar a criação, e não de a destruir. 

Deste contexto faz parte também o capítulo 8 da Carta aos Romanos, onde se afirma que a criação sofre e geme devido à submissão em que se encontra e que espera a revelação dos filhos de Deus: sentir-se-á livre, quando vierem criaturas, homens que são filhos de Deus e que a tratarem a partir de Deus. Julgo que é precisamente isto que nós, hoje em dia, podemos constatar como realidade: a criação geme – vemo-lo, quase que o sentimos – e espera pessoas humanas que a considerem a partir de Deus. 

O consumo brutal da criação começa lá onde Deus não está, onde a matéria já é somente material para nós, onde nós mesmos somos a última instância, onde o conjunto é simplesmente nossa propriedade e onde o consumimos somente para nós mesmos. E o desperdício da criação começa onde já não reconhecemos qualquer instância acima de nós, mas vemo-nos unicamente a nós mesmos; tem início lá onde já não existe qualquer dimensão da vida acima da morte, onde nesta vida temos que nos apoderar de tudo e possuir a vida na máxima intensidade possível, onde temos que possuir tudo aquilo que é possível possuir.

Portanto, julgo que instâncias verdadeiras e eficazes contra o desperdício e a destruição da criação podem ser realizadas e desenvolvidas, compreendidas e vividas somente lá onde a criação é considerada a partir de Deus; onde a vida é considerada a partir de Deus e tem maiores dimensões – na responsabilidade diante de Deus – e um dia nos será plenamente concedida por Deus e jamais tirada: se doarmos a vida, nós haveremos de recebê-la.


Assim, penso, temos que tentar com todos os meios de que dispomos, apresentar a fé em público, especialmente lá onde já existe alguma sensibilidade no que se lhe refere. E julgo que a sensação de que o mundo talvez esteja a sair do nosso controle – porque nós mesmos o expulsamos – e o facto de nos sentirmos oprimidos pelos problemas da criação, é precisamente isto que nos oferece a ocasião adequada em que a nossa fé pode falar publicamente, e pode fazer-se valer como uma instância propositiva. 

Efectivamente, não se trata apenas de encontrar técnicas que previnam os prejuízos, embora seja importante encontrar energias alternativas. No entanto, tudo isto não será suficiente, se nós mesmos não encontrarmos um novo estilo de vida, uma disciplina feita também de renúncias, uma disciplina do reconhecimento do próximo, a quem a criação pertence tanto quanto a nós, que podemos dispor da mesma mais facilmente; uma disciplina da responsabilidade em relação ao futuro dos outros e do nosso próprio futuro, porque se trata da responsabilidade diante Daquele que é o nosso Juiz e, enquanto Juiz, é Redentor, mas por isso também verdadeiramente nosso Juiz. 

Por conseguinte, penso que é necessário unir de qualquer maneira estas duas dimensões – Criação e Redenção, vida terrena e vida eterna, responsabilidade em relação à criação e responsabilidade a propósito dos outros e do futuro – e que a nossa tarefa consista em intervir assim, de maneira clara e decidida, na opinião pública. 

Para sermos ouvidos, temos que demonstrar contemporaneamente mediante o nosso próprio exemplo, com o nosso próprio estilo de vida, que estamos a falar de uma mensagem em que nós próprios acreditamos e segundo o qual é possível viver. E queremos pedir ao Senhor que ajude todos nós a viver a fé, a responsabilidade da fé, de tal maneira que o nosso estilo de vida consiga tornar-se testemunho e, em seguida, a falar de tal forma que as nossas palavras apresentem de modo credível a fé como orientação nesta nossa época.
 ( Cópia  fiel da tradução do site do Vaticano)

sexta-feira, 15 de setembro de 2017

MENSAGEM DO PAPA PAULO VI , NA CONCLUSÃO DO CONCÍLIO VATICANO II, AOS ARTISTAS


Mensagem do Papa Paulo VI na Conclusão do Concílio Vaticano II, que poder ser lida aqui, no site do Vaticano



MENSAGEM DO PAPA PAULO VI 
NA CONCLUSÃO DO CONCÍLIO VATICANO II
AOS ARTISTAS


8 de Dezembro de 1965


Aos artistas

Para todos vós, agora, artistas, que sois prisioneiros da beleza e que trabalhais para ela: poetas e letrados, pintores, escultores, arquitectos, músicos, homens do teatro, cineastas . . . A todos vós, a Igreja do Concílio afirma pela nossa voz: se sois os amigos da autêntica arte, sois nossos amigos.


Desde há muito que a Igreja se aliou convosco. Vós tendes edificado e decorado os seus templos, celebrado os seus dogmas, enriquecido a sua Liturgia. Tendes ajudado a Igreja a traduzir a sua divina mensagem na linguagem das formas e das figuras, a tornar perceptível o mundo invisível.

Hoje como ontem, a Igreja tem necessidade de vós e volta-se para vós. E diz-vos pela nossa voz: não permitais que se rompa uma aliança entre todas fecunda. Não vos recuseis a colocar o vosso talento ao serviço da verdade divina. Não fecheis o vosso espírito ao sopro do Espírito Santo.

O mundo em que vivemos tem necessidade de beleza para não cair no desespero. A beleza, como a verdade, é a que traz alegria ao coração dos homens, é este fruto precioso que resiste ao passar do tempo, que une as gerações e as faz comungar na admiração. E isto por vossas mãos.

Que estas mãos sejam puras e desinteressadas. Lembrai-vos de que sois os guardiões da beleza no mundo: que isso baste para vos afastar dos gostos efémeros e sem valor autêntico, para vos libertar da procura de expressões estranhas ou indecorosas.

Sede sempre e em toda a parte dignos do vosso ideal, e sereis dignos da Igreja, que, pela nossa voz, vos dirige neste dia a sua mensagem de amizade, de salvação, de graça e de bênção.


© Copyright - Libreria Editrice Vaticana


Carta de São João Paulo II aos Artistas

Cópia da carta do Papa São João Paulo II , dirigida aos artistas em 1999, que pode ser lida aqui, no site do Vaticano


CARTA DO PAPA JOÃO PAULO II
AOS ARTISTAS
1999
A todos aqueles que apaixonadamente
procuram novas « epifanias » da beleza
para oferecê-las ao mundo
como criação artística.

« Deus, vendo toda a sua obra, considerou-a muito boa » (Gn 1,31).


O artista, imagem de Deus Criador

1. Ninguém melhor do que vós, artistas, construtores geniais de beleza, pode intuir algo daquele pathos com que Deus, na aurora da criação, contemplou a obra das suas mãos. Infinitas vezes se espelhou um relance daquele sentimento no olhar com que vós — como, aliás, os artistas de todos os tempos —, maravilhados com o arcano poder dos sons e das palavras, das cores e das formas, vos pusestes a admirar a obra nascida do vosso génio artístico, quase sentindo o eco daquele mistério da criação a que Deus, único criador de todas as coisas, de algum modo vos quis associar.

Pareceu-me, por isso, que não havia palavras mais apropriadas do que as do livro do Génesis para começar esta minha Carta para vós, a quem me sinto ligado por experiências dos meus tempos passados e que marcaram indelevelmente a minha vida. Ao escrever-vos, desejo dar continuidade àquele fecundo diálogo da Igreja com os artistas que, em dois mil anos de história, nunca se interrompeu e se prevê ainda rico de futuro no limiar do terceiro milénio.

Na realidade, não se trata de um diálogo ditado apenas por circunstâncias históricas ou motivos utilitários, mas radicado na própria essência tanto da experiência religiosa como da criação artística. A página inicial da Bíblia apresenta-nos Deus quase como o modelo exemplar de toda a pessoa que produz uma obra: no artífice, reflecte-se a sua imagem de Criador. Esta relação é claramente evidenciada na língua polaca, com a semelhança lexical das palavras stwórca (criador) e twórca (artífice).

Qual é a diferença entre « criador » e « artífice »? Quem cria dá o próprio ser, tira algo do nada — ex nihilo sui et subiecti, como se costuma dizer em latim — e isto, em sentido estrito, é um modo de proceder exclusivo do Omnipotente. O artífice, ao contrário, utiliza algo já existente, a que dá forma e significado. Este modo de agir é peculiar do homem enquanto imagem de Deus. Com efeito, depois de ter afirmado que Deus criou o homem e a mulher « à sua imagem » (cf. Gn 1,27), a Bíblia acrescenta que Ele confiou-lhes a tarefa de dominarem a terra (cf. Gn 1,28). Foi no último dia da criação (cf. Gn 1,28-31). Nos dias anteriores, como que marcando o ritmo da evolução cósmica, Javé tinha criado o universo. No final, criou o homem, o fruto mais nobre do seu projecto, a quem submeteu o mundo visível como um campo imenso onde exprimir a sua capacidade inventiva.

Por conseguinte, Deus chamou o homem à existência, dando-lhe a tarefa de ser artífice. Na « criação artística », mais do que em qualquer outra actividade, o homem revela-se como « imagem de Deus », e realiza aquela tarefa, em primeiro lugar plasmando a « matéria » estupenda da sua humanidade e depois exercendo um domínio criativo sobre o universo que o circunda. Com amorosa condescendência, o Artista divino transmite uma centelha da sua sabedoria transcendente ao artista humano, chamando-o a partilhar do seu poder criador. Obviamente é uma participação, que deixa intacta a infinita distância entre o Criador e a criatura, como sublinhava o Cardeal Nicolau Cusano: « 
A arte criativa, que a alma tem a sorte de albergar, não se identifica com aquela arte por essência que é própria de Deus, mas constitui apenas comunicação e participação dela ».[1]

Por isso, quanto mais consciente está o artista do « dom » que possui, tanto mais se sente impelido a olhar para si mesmo e para a criação inteira com olhos capazes de contemplar e agradecer, elevando a Deus o seu hino de louvor. Só assim é que ele pode compreender-se profundamente a si mesmo e à sua vocação e missão.

A vocação especial do artista

2. Nem todos são chamados a ser artistas, no sentido específico do termo. Mas, segundo a expressão do Génesis, todo o homem recebeu a tarefa de ser artífice da própria vida: de certa forma, deve fazer dela uma obra de arte, uma obra-prima.

É importante notar a distinção entre estas duas vertentes da actividade humana, mas também a sua conexão. A distinção é evidente. De facto, uma coisa é a predisposição pela qual o ser humano é autor dos próprios actos e responsável do seu valor moral, e outra a predisposição pela qual é artista, isto é, sabe agir segundo as exigências da arte, respeitando fielmente as suas regras específicas.[2] Assim, o artista é capaz de produzir objectos, mas isso de per si ainda não indica nada sobre as suas disposições morais. Neste caso, não se trata de plasmar-se a si mesmo, de formar a própria personalidade, mas apenas de fazer frutificar capacidades operativas, dando forma estética às ideias concebidas pela mente.

Mas, se a distinção é fundamental, importante é igualmente a conexão entre as duas predisposições: a moral e a artística. Ambas se condicionam de forma recíproca e profunda. De facto, o artista, quando modela uma obra, exprime-se de tal modo a si mesmo que o resultado constitui um reflexo singular do próprio ser, daquilo que ele é e de como o é. Isto aparece confirmado inúmeras vezes na história da humanidade. De facto, quando o artista plasma uma obra-prima, não dá vida apenas à sua obra, mas, por meio dela, de certo modo manifesta também a própria personalidade. Na arte, encontra uma dimensão nova e um canal estupendo de expressão para o seu crescimento espiritual. Através das obras realizadas, o artista fala e comunica com os outros. Por isso, a História da Arte não é apenas uma história de obras, mas também de homens. As obras de arte falam dos seus autores, dão a conhecer o seu íntimo e revelam o contributo original que eles oferecem à história da cultura.


A vocação artística ao serviço da beleza

3. Um conhecido poeta polaco, Cyprian Norwid, escreveu: « A beleza é para dar entusiasmo ao trabalho, o trabalho para ressurgir ».[3]

O tema da beleza é qualificante, ao falar de arte. Esse tema apareceu já, quando sublinhei o olhar de complacência que Deus lançou sobre a criação. Ao pôr em relevo que tudo o que tinha criado era bom, Deus viu também que era belo.[4] A confrontação entre o bom e o belo gera sugestivas reflexões. Em certo sentido, a beleza é a expressão visível do bem, do mesmo modo que o bem é a condição metafísica da beleza. Justamente o entenderam os Gregos, quando, fundindo os dois conceitos, cunharam uma palavra que abraça a ambos: « kalokagathía », ou seja, « beleza-bondade ». A este respeito, escreve Platão: « A força do Bem refugiou-se na natureza do Belo ».[5]

Vivendo e agindo é que o homem estabelece a sua relação com o ser, a verdade e o bem. O artista vive numa relação peculiar com a beleza. Pode-se dizer, com profunda verdade, que a beleza é a vocação a que o Criador o chamou com o dom do « talento artístico ». E também este é, certamente, um talento que, na linha da parábola evangélica dos talentos (cf. Mt 25,14-30), se deve pôr a render.

Tocamos aqui um ponto essencial. Quem tiver notado em si mesmo esta espécie de centelha divina que é a vocação artística — de poeta, escritor, pintor, escultor, arquitecto, músico, actor... —, adverte ao mesmo tempo a obrigação de não desperdiçar este talento, mas de o desenvolver para colocá-lo ao serviço do próximo e de toda a humanidade.


O artista e o bem comum

4. De facto, a sociedade tem necessidade de artistas, da mesma forma que precisa de cientistas, técnicos, trabalhadores, especialistas, testemunhas da fé, professores, pais e mães, que garantam o crescimento da pessoa e o progresso da comunidade, através daquela forma sublime de arte que é a « arte de educar ». No vasto panorama cultural de cada nação, os artistas têm o seu lugar específico. Precisamente enquanto obedecem ao seu génio artístico na realização de obras verdadeiramente válidas e belas, não só enriquecem o património cultural da nação e da humanidade inteira, mas prestam também um serviço social qualificado ao bem comum.

A vocação diferente de cada artista, ao mesmo tempo que determina o âmbito do seu serviço, indica também as tarefas que deve assumir, o trabalho duro a que tem de sujeitar-se, a responsabilidade que deve enfrentar. Um artista, consciente de tudo isto, sabe também que deve actuar sem deixar-se dominar pela busca duma glória efémera ou pela ânsia de uma popularidade fácil, e menos ainda pelo cálculo do possível ganho pessoal. Há, portanto, uma ética ou melhor uma « espiritualidade » do serviço artístico, que a seu modo contribui para a vida e o renascimento do povo. A isto mesmo parece querer aludir Cyprian Norwid, quando afirma: « A beleza é para dar entusiasmo ao trabalho, o trabalho para ressurgir ».


A arte face ao mistério do Verbo encarnado

5. A Lei do Antigo Testamento contém uma proibição explícita de representar Deus invisível e inexprimível através duma « estátua esculpida ou fundida » (Dt 27,15), porque Ele transcende qualquer representação material: « Eu sou Aquele que sou » (Ex 3,14). No mistério da Encarnação, porém, o Filho de Deus tornou-Se visível em carne e osso: « Ao chegar a plenitude dos tempos, Deus enviou o seu Filho, nascido de mulher » (Gl 4,4). Deus fez-Se homem em Jesus Cristo, que Se tornou assim « o centro de referência para se poder compreender o enigma da existência humana, do mundo criado, e mesmo de Deus ».[6]

Esta manifestação fundamental do « Deus-Mistério » apresenta-se como estímulo e desafio para os cristãos, inclusive no plano da criação artística. E gerou-se um florescimento de beleza, cuja linfa proveio precisamente daqui, do mistério da Encarnação. De facto, quando Se fez homem, o Filho de Deus introduziu na história da humanidade toda a riqueza evangélica da verdade e do bem e, através dela, pôs a descoberto também uma nova dimensão da beleza: a mensagem evangélica está completamente cheia dela.

A Sagrada Escritura tornou-se, assim, uma espécie de « dicionário imenso » (P. Claudel) e de « atlas iconográfico » (M. Chagall), onde foram beber a cultura e a arte cristã. O próprio Antigo Testamento, interpretado à luz do Novo, revelou mananciais inexauríveis de inspiração. Desde as narrações da criação, do pecado, do dilúvio, do ciclo dos Patriarcas, dos acontecimentos do êxodo, passando por tantos outros episódios e personagens da História da Salvação, o texto bíblico atiçou a imaginação de pintores, poetas, músicos, autores de teatro e de cinema. Uma figura como a de Job, só para dar um exemplo, com a problemática pungente e sempre actual da dor, continua a suscitar conjuntamente interesse filosófico, literário e artístico. E que dizer então do Novo Testamento? 

Desde o Nascimento ao Gólgota, da Transfiguração à Ressurreição, dos milagres aos ensinamentos de Cristo, até chegar aos acontecimentos narrados nos Actos dos Apóstolos ou previstos no Apocalipse em chave escatológica, inúmeras vezes a palavra bíblica se fez imagem, música, poesia, evocando com a linguagem da arte o mistério do « Verbo feito carne ».

Tudo isto constitui, na história da cultura, um amplo capítulo de fé e de beleza. Dele tiraram proveito sobretudo os crentes para a sua experiência de oração e de vida. Para muitos deles, em tempos de escassa alfabetização, as expressões figurativas da Bíblia constituíram mesmo um meio concreto de catequização.[7] Mas para todos, crentes ou não, as realizações artísticas inspiradas na Sagrada Escritura permanecem um reflexo do mistério insondável que abraça e habita o mundo.


Entre Evangelho e arte, uma aliança profunda

6. Com efeito, toda a intuição artística autêntica ultrapassa o que os sentidos captam e, penetrando na realidade, esforça-se por interpretar o seu mistério escondido. Ela brota das profundidades da alma humana, lá onde a aspiração de dar um sentido à própria vida se une com a percepção fugaz da beleza e da unidade misteriosa das coisas. Uma experiência partilhada por todos os artistas é a da distância incolmatável que existe entre a obra das suas mãos, mesmo quando bem sucedida, e a perfeição fulgurante da beleza vislumbrada no ardor do momento criativo: tudo o que conseguem exprimir naquilo que pintam, modelam, criam, não passa de um pálido reflexo daquele esplendor que brilhou por instantes diante dos olhos do seu espírito.

O crente não se maravilha disto: sabe que se debruçou por um instante sobre aquele abismo de luz que tem a sua fonte originária em Deus. Há porventura motivo para admiração, se o espírito fica de tal modo inebriado que não sabe exprimir-se senão por balbuciações? Ninguém mais do que o verdadeiro artista está pronto a reconhecer a sua limitação e fazer suas as palavras do apóstolo Paulo, segundo o qual Deus « não habita em santuários construídos pela mão do homem », pelo que « não devemos pensar que a Divindade seja semelhante ao ouro, à prata ou à pedra, trabalhados pela arte e engenho do homem » (Act 17,24.29). Se já a realidade íntima das coisas se situa « para além » das capacidades de compreensão humana, quanto mais Deus nas profundezas do seu mistério insondável!

Já de natureza diversa é o conhecimento de fé: este supõe um encontro pessoal com Deus em Jesus Cristo. Mas também este conhecimento pode tirar proveito da intuição artística. Modelo eloquente duma contemplação estética que se sublima na fé são, por exemplo, as obras do Beato Fra Angélico. A este respeito, é igualmente significativa a lauda extasiada, que S. Francisco de Assis repete duas vezes na chartula, redigida depois de ter recebido os estigmas de Cristo no monte Alverne: « Vós sois beleza... Vós sois beleza! ».[8] S. Boaventura comenta: « Contemplava nas coisas belas o Belíssimo e, seguindo o rasto impresso nas criaturas, buscava por todo o lado o Dilecto ».[9]

Uma perspectiva semelhante aparece na espiritualidade oriental, quando Cristo é designado como « o Belíssimo de maior beleza que todos os mortais ».[10] Assim comenta Macário, o Grande, a beleza transfigurante e libertadora que irradia do Ressuscitado: « A alma que foi plenamente iluminada pela beleza inexprimível da glória luminosa do rosto de Cristo, fica cheia do Espírito Santo (...) é toda olhos, toda luz, toda rosto ».[11]

Toda a forma autêntica de arte é, a seu modo, um caminho de acesso à realidade mais profunda do homem e do mundo. E, como tal, constitui um meio muito válido de aproximação ao horizonte da fé, onde a existência humana encontra a sua plena interpretação. Por isso é que a plenitude evangélica da verdade não podia deixar de suscitar, logo desde os primórdios, o interesse dos artistas, sensíveis por natureza a todas as manifestações da beleza íntima da realidade.


Os primórdios

7. A arte, que o cristianismo encontrou nos seus inícios, era o fruto maduro do mundo clássico, exprimia os seus cânones estéticos e, ao mesmo tempo, veiculava os seus valores. A fé impunha aos cristãos, tanto no campo da vida e do pensamento como no da arte, um discernimento que não permitia a aceitação automática deste património. Assim, a arte de inspiração cristã começou em surdina, ditada pela necessidade que os crentes tinham de elaborar sinais para exprimirem, com base na Escritura, os mistérios da fé e simultaneamente de arranjar um « código simbólico » para se reconhecerem e identificarem especialmente nos tempos difíceis das perseguições. Quem não recorda certos símbolos que foram os primeiros vestígios duma arte pictórica e plástica? O peixe, os pães, o pastor... Evocavam o mistério, tornando-se quase insensivelmente esboços de uma arte nova.

Quando, pelo édito de Constantino, foi concedido aos cristãos exprimirem-se com plena liberdade, a arte tornou-se um canal privilegiado de manifestação da fé. Por todo o lado, começaram a despontar majestosas basílicas, nas quais os cânones arquitectónicos do antigo paganismo eram assumidos sim, mas reajustados às exigências do novo culto. Como não recordar pelo menos a antiga Basílica de S. Pedro e a de S. João de Latrão, construídas pelo imperador Constantino? Ou, no âmbito dos esplendores da arte bizantina, a Haghia Sophía de Constantinopla querida por Justiniano?

Enquanto a arquitectura desenhava o espaço sagrado, a necessidade de contemplar o mistério e de o propor de modo imediato aos simples levou progressivamente às primeiras expressões da arte pictórica e escultural. Ao mesmo tempo surgiam os primeiros esboços de uma arte da palavra e do som; e se Agostinho incluía também, entre as temáticas da sua produção, um De musica, Hilário, Ambrósio, Prudêncio, Efrém da Síria, Gregório de Nazianzo, Paulino de Nola, para citar apenas alguns nomes, faziam-se promotores de poesia cristã, que atinge frequentemente um alto valor não só teológico mas também literário. A sua produção poética valorizava formas herdadas dos clássicos, mas bebia na linfa pura do Evangelho, como justamente sentenciava o Santo poeta de Nola: « A nossa única arte é a fé, e Cristo é o nosso canto ».[12] Algum tempo mais tarde, Gregório Magno, com a compilação do Antiphonarium, punha as premissas para o desenvolvimento orgânico daquela música sacra tão original, que ficou conhecida pelo nome dele. Com as suas inspiradas modulações, o Canto Gregoriano tornar-se-á, com o passar dos séculos, a expressão melódica típica da fé da Igreja durante a celebração litúrgica dos Mistérios Sagrados. Assim, o « belo » conjugava-se com o « verdadeiro », para que, também através dos caminhos da arte, os ânimos fossem arrebatados do sensível ao eterno.

Não faltaram momentos difíceis neste caminho. A propósito precisamente do tema da representação do mistério cristão, a antiguidade conheceu uma áspera controvérsia, que passou à história com o nome de « luta iconoclasta ». As imagens sagradas, já então difusas na devoção do povo de Deus, foram objecto de violenta contestação. O Concílio celebrado em Niceia no ano 787, que estabeleceu a legitimidade das imagens e do seu culto, foi um acontecimento histórico não só para a fé mas também para a própria cultura. O argumento decisivo a que recorreram os Bispos para debelar a controvérsia, foi o mistério da Encarnação: se o Filho de Deus entrou no mundo das realidades visíveis, lançando, pela sua humanidade, uma ponte entre o visível e o invisível, é possível pensar que analogamente uma representação do mistério pode ser usada, pela dinâmica própria do sinal, como evocação sensível do mistério. O ícone não é venerado por si mesmo, mas reenvia ao sujeito que representa.[13]


A Idade Média

8. Os séculos seguintes foram testemunhas dum grande desenvolvimento da arte cristã. No Oriente, continuou a florescer a arte dos ícones, vinculada a significativos cânones teológicos e estéticos e apoiada na convicção de que, em determinado sentido, o ícone é um sacramento: com efeito, de modo análogo ao que sucede nos sacramentos, ele torna presente o mistério da Encarnação nalgum dos seus aspectos. Por isso mesmo, a beleza dum ícone pode ser apreciada sobretudo no interior de um templo, com os candelabros que ardem e suscitam na penumbra infinitos reflexos de luz. A este respeito, escreve Pavel Florenskij: « Bárbaro, pesado, fútil à luz clara do dia, o ouro reanima-se com a luz trémula dum candelabro ou duma vela, que o faz cintilar aqui e ali com miríades de fulgores, fazendo pressentir outras luzes não terrestres que enchem o espaço celeste ».[14]

No Ocidente, são muito variadas as perspectivas e os pontos donde partem os artistas, dependendo também das convicções fundamentais presentes no ambiente cultural do respectivo tempo. O património artístico, que se foi acumulando ao longo dos séculos, conta um florescimento vastíssimo de obras sacras de alta inspiração, que deixam cheio de admiração mesmo o observador do nosso tempo. Em primeiro plano, situam-se as grandes construções do culto, onde a funcionalidade sempre se une ao génio artístico, e este último se deixa inspirar pelo sentido do belo e pela intuição do mistério. Nascem daí estilos bem conhecidos na História da Arte. A força e a simplicidade do românico, expressa nas catedrais ou nas abadias, vai-se desenvolvendo gradualmente nas ogivas e esplendores do gótico. Dentro destas formas, não existe só o génio dum artista, mas a alma dum povo. Nos jogos de luzes e sombras, nas formas ora maciças ora ogivadas, intervêm certamente considerações de técnica estrutural, mas também tensões próprias da experiência de Deus, mistério « tremendo » e « fascinante ». Como sintetizar em poucos traços, nas diversas expressões da arte, a força criativa dos longos séculos da Idade Média cristã? Uma cultura inteira, embora com as limitações humanas sempre presentes, impregnara-se de Evangelho, e onde o pensamento teológico realizava a Summa de S. Tomás, a arte das igrejas submetia a matéria à adoração do mistério, ao mesmo tempo que um poeta admirável como Dante Alighieri podia compor « o poema sagrado, para o qual concorreram céu e terra »,[15] como ele próprio classifica a Divina Comédia.


Humanismo e Renascimento

9. A feliz estação cultural, em que tem origem o florescimento artístico extraordinário do Humanismo e do Renascimento, apresenta também reflexos significativos do modo como os artistas desse período concebiam o tema religioso. Naturalmente as inspirações são tão variadas como os seus estilos, ou pelo menos como os mais importantes deles. Mas, não é minha intenção lembrar coisas que vós, artistas, bem conheceis. Dado que vos escrevo deste Palácio Apostólico, escrínio de obras-primas talvez único no mundo, quero antes fazer-me voz dos maiores artistas que por aqui disseminaram as riquezas do seu génio, permeado frequentemente de grande profundidade espiritual. Daqui fala Miguel Ângelo, que na Capela Sistina de algum modo compendiou, desde a Criação ao Juízo Universal, o drama e o mistério do mundo, retratando Deus Pai, Cristo Juiz, o homem no seu fatigante caminho desde as origens até ao fim da História. Daqui fala o génio delicado e profundo de Rafael, apontando, na variedade das suas pinturas e de modo especial na « Disputa » da Sala da Assinatura, o mistério da revelação de Deus Trinitário, que na Eucaristia Se faz companheiro do homem, e projecta luz sobre as questões e os anelos da inteligência humana. Daqui, da majestosa Basílica dedicada ao Príncipe dos Apóstolos, da colunata que sai dela como dois braços abertos para acolher a humanidade, falam ainda Bramante, Bernini, Borromini, Maderno, para citar apenas os maiores, oferecendo plasticamente o sentido do mistério que faz da Igreja uma comunidade universal, hospitaleira, mãe e companheira de viagem para todo o homem à procura de Deus.

A arte sacra encontrou, neste conjunto extraordinário, uma força expressiva excepcional, atingindo níveis de imorredoiro valor quer estético quer religioso. O que vai caracterizando cada vez mais tal arte, sob o impulso do Humanismo e do Renascimento e das sucessivas tendências da cultura e da ciência, é um crescente interesse pelo homem, pelo mundo, pela realidade histórica. Esta atenção, por si mesma, não é de modo algum um perigo para a fé cristã, centrada sobre o mistério da Encarnação e, portanto, sobre a valorização do homem por parte de Deus. Precisamente os maiores artistas acima mencionados no-lo demonstram. Bastaria pensar no modo como Miguel Ângelo exprime nas suas pinturas e esculturas, a beleza do corpo humano.[16]

Aliás, mesmo no novo clima dos últimos séculos quando parte da sociedade parece indiferente à fé, a arte religiosa não cessou de avançar. A constatação torna-se ainda mais palpável, se da vertente das artes figurativas se passa a considerar o grande desenvolvimento que, neste mesmo período de tempo, teve a música sacra, composta para as necessidades litúrgicas, ou apenas relacionada com temas religiosos. Sem contar tantos artistas que a ela se dedicaram amplamente (como não lembrar Pero Luís de Palestrina, Orlando de Lasso, Tomás Luís de Victoria?), é sabido que muitos dos grandes compositores — de Händel a Bach, de Mozart a Schubert, de Beethoven a Berlioz, de Listz a Verdi — nos ofereceram obras de altíssima inspiração também neste campo.

A caminho dum renovado diálogo

10. Verdade é que, na Idade Moderna, ao lado deste humanismo cristão que continuou a produzir significativas expressões de cultura e de arte, foi-se progressivamente afirmando também uma forma de humanismo caracterizada pela ausência de Deus senão mesmo pela oposição a Ele. Este clima levou por vezes a uma certa separação entre o mundo da arte e o da fé, pelo menos no sentido de menor interesse de muitos artistas pelos temas religiosos.

Mas, vós sabeis que a Igreja continuou a nutrir grande apreço pelo valor da arte enquanto tal. De facto esta, mesmo fora das suas expressões mais tipicamente religiosas, mantém uma afinidade íntima com o mundo da fé, de modo que, até mesmo nas condições de maior separação entre a cultura e a Igreja, é precisamente a arte que continua a constituir uma espécie de ponte que leva à experiência religiosa. Enquanto busca do belo, fruto duma imaginação que voa mais acima do dia-a-dia, a arte é, por sua natureza, uma espécie de apelo ao Mistério. Mesmo quando perscruta as profundezas mais obscuras da alma ou os aspectos mais desconcertantes do mal, o artista torna-se de qualquer modo voz da esperança universal de redenção.

Compreende-se, assim, porque a Igreja está especialmente interessada no diálogo com a arte e quer que se realize na nossa época uma nova aliança com os artistas, como o dizia o meu venerando predecessor Paulo VI no seu discurso veemente aos artistas, durante um encontro especial na Capela Sistina a 7 de Maio de 1964.[17] A Igreja espera dessa colaboração uma renovada « epifania » de beleza para o nosso tempo e respostas adequadas às exigências próprias da comunidade cristã.


No espírito do Concílio Vaticano II

11. O Concílio Vaticano II lançou as bases para uma renovada relação entre a Igreja e a cultura, com reflexos imediatos no mundo da arte. Tal relação é proposta na base da amizade, da abertura e do diálogo. Na Constituição pastoral Gaudium et spes, os Padres Conciliares sublinharam a « grande importância » da literatura e das artes na vida do homem: « Elas procuram dar expressão à natureza do homem, aos seus problemas e à experiência das suas tentativas para conhecer-se e aperfeiçoar-se a si mesmo e ao mundo; e tentam identificar a sua situação na história e no universo, dar a conhecer as suas misérias e alegrias, necessidades e energias, e desvendar um futuro melhor ».[18]

Baseados nisto, os Padres, no final do Concílio, dirigiram aos artistas uma saudação e um apelo, nestes termos: « O mundo em que vivemos tem necessidade de beleza para não cair no desespero. A beleza, como a verdade, é a que traz alegria ao coração dos homens, é este fruto precioso que resiste ao passar do tempo, que une as gerações e as faz comungar na admiração ».[19] Neste mesmo espírito de profunda estima pela beleza, a Constituição sobre a sagrada liturgia Sacrosanctum Concilium lembrou a histórica amizade da Igreja pela arte e, falando mais especificamente da arte sacra, « vértice » da arte religiosa, não hesitou em considerar como « nobre ministério » a actividade dos artistas, quando as suas obras são capazes de reflectir de algum modo a beleza infinita de Deus e orientar para Ele a mente dos homens.[20] Também através do seu contributo, « o conhecimento de Deus é mais perfeitamente manifestado e a pregação evangélica torna-se mais compreensível ao espírito dos homens ».[21] À luz disto, não surpreende a afirmação do Padre Marie-Dominique Chenu, segundo o qual o historiador da Teologia deixaria a sua obra incompleta, se não dedicasse a devida atenção às realizações artísticas, quer literárias quer plásticas, que a seu modo constituem « não só ilustrações estéticas, mas verdadeiros “lugares” teológicos ».[22]


A Igreja precisa da arte

12. Para transmitir a mensagem que Cristo lhe confiou, a Igreja tem necessidade da arte. De facto, deve tornar perceptível e até o mais fascinante possível o mundo do espírito, do invisível, de Deus. Por isso, tem de transpor para fórmulas significativas aquilo que, em si mesmo, é inefável. Ora, a arte possui uma capacidade muito própria de captar os diversos aspectos da mensagem, traduzindo-os em cores, formas, sons que estimulam a intuição de quem os vê e ouve. E isto, sem privar a própria mensagem do seu valor transcendente e do seu halo de mistério.

A Igreja precisa particularmente de quem saiba realizar tudo isto no plano literário e figurativo, trabalhando com as infinitas possibilidades das imagens e suas valências simbólicas. O próprio Cristo utilizou amplamente as imagens na sua pregação, em plena coerência, aliás, com a opção que, pela Encarnação, fizera d'Ele mesmo o ícone do Deus invisível.
A Igreja tem igualmente necessidade dos músicos. Quantas composições sacras foram elaboradas, ao longo dos séculos, por pessoas profundamente imbuídas pelo sentido do mistério! Crentes sem número alimentaram a sua fé com as melodias nascidas do coração de outros crentes, que se tornaram parte da Liturgia ou pelo menos uma ajuda muito válida para a sua decorosa realização. 

No cântico, a fé é sentida como uma exuberância de alegria, de amor, de segura esperança da intervenção salvífica de Deus.

A Igreja precisa de arquitectos, porque tem necessidade de espaços onde congregar o povo cristão e celebrar os mistérios da salvação. Depois das terríveis destruições da última guerra mundial e com o crescimento das cidades, uma nova geração de arquitectos se amalgamou com as exigências do culto cristão, confirmando a capacidade de inspiração que possui o tema religioso relativamente também aos critérios arquitectónicos do nosso tempo. De facto, não raro se construíram templos, que são simultaneamente lugares de oração e autênticas obras de arte.


A arte precisa da Igreja?

13. Portanto, a Igreja tem necessidade da arte. Pode-se dizer também que a arte precisa da Igreja? A pergunta pode parecer provocatória. Mas, se for compreendida no seu recto sentido, obedece a uma motivação legítima e profunda. Na realidade, o artista vive sempre à procura do sentido mais íntimo das coisas; toda a sua preocupação é conseguir exprimir o mundo do inefável. Como não ver então a grande fonte de inspiração que pode ser, para ele, esta espécie de pátria da alma que é a religião? Não é porventura no âmbito religioso que se colocam as questões pessoais mais importantes e se procuram as respostas existenciais definitivas?

De facto, o tema religioso é dos mais tratados pelos artistas de cada época. A Igreja tem feito sempre apelo às suas capacidades criativas, para interpretar a mensagem evangélica e a sua aplicação à vida concreta da comunidade cristã. Esta colaboração tem sido fonte de mútuo enriquecimento espiritual. Em última instância, dela tirou vantagem a compreensão do homem, da sua imagem autêntica, da sua verdade. Sobressaiu também o laço peculiar que existe entre a arte e a revelação cristã. Isto não quer dizer que o génio humano não tenha encontrado estímulos também noutros contextos religiosos; basta recordar a arte antiga, sobretudo grega e romana, e a arte ainda florescente das vetustas civilizações do Oriente. A verdade é que o cristianismo, em virtude do dogma central da encarnação do Verbo de Deus, oferece ao artista um horizonte particularmente rico de motivos de inspiração. Que grande empobrecimento seria para a arte o abandono desse manancial inexaurível que é o Evangelho!


Apelo aos artistas

14. Com esta Carta dirijo-me a vós, artistas do mundo inteiro, para vos confirmar a minha estima e contribuir para o restabelecimento duma cooperação mais profícua entre a arte e a Igreja. Convido-vos a descobrir a profundeza da dimensão espiritual e religiosa que sempre caracterizou a arte nas suas formas expressivas mais nobres. Nesta perspectiva, faço-vos um apelo a vós, artistas da palavra escrita e oral, do teatro e da música, das artes plásticas e das mais modernas tecnologias de comunicação. Este apelo dirijo-o de modo especial a vós, artistas cristãos: a cada um queria recordar que a aliança que sempre vigorou entre Evangelho e arte, independentemente das exigências funcionais, implica o convite a penetrar, pela intuição criativa, no mistério de Deus encarnado e contemporaneamente no mistério do homem.

Cada ser humano é, de certo modo, um desconhecido para si mesmo. Jesus Cristo não Se limita a manifestar Deus, mas « revela o homem a si mesmo ».[23] Em Cristo, Deus reconciliou consigo o mundo. Todos os crentes são chamados a dar testemunho disto; mas compete a vós, homens e mulheres que dedicastes a vossa vida à arte, afirmar com a riqueza da vossa genialidade que, em Cristo, o mundo está redimido: está redimido o homem, está redimido o corpo humano, está redimida a criação inteira, da qual S. Paulo escreveu que « aguarda ansiosa a revelação dos filhos de Deus » (Rm 8,19). Aguarda a revelação dos filhos de Deus, também através da arte e na arte. Esta é a vossa tarefa. Em contacto com as obras de arte, a humanidade de todos os tempos — também a de hoje — espera ser iluminada acerca do próprio caminho e destino.


Espírito Criador e inspiração artística

15. Na Igreja, ressoa muitas vezes esta invocação ao Espírito Santo: Veni, Creator Spiritus..., « Vinde, Espírito Criador, as nossas mentes visitai, enchei da vossa graça os corações que criastes ».[24]

Ao Espírito Santo, « o Sopro » (ruah), acena já o livro do Génesis: « A terra era informe e vazia. As trevas cobriam o abismo, e o Espírito de Deus movia-Se sobre a superfície das águas » (1,2). Existe grande afinidade lexical entre « sopro — expiração » e « inspiração ». O Espírito é o misterioso artista do universo. Na perspectiva do terceiro milénio, faço votos de que todos os artistas possam receber em abundância o dom daquelas inspirações criativas donde tem início toda a autêntica obra de arte.

Queridos artistas, como bem sabeis, são muitos os estímulos, interiores e exteriores, que podem inspirar o vosso talento. Toda a autêntica inspiração, porém, encerra em si qualquer frémito daquele « sopro » com que o Espírito Criador permeava, já desde o início, a obra da criação. Presidindo às misteriosas leis que governam o universo, o sopro divino do Espírito Criador vem ao encontro do génio do homem e estimula a sua capacidade criativa. Abençoa-o com uma espécie de iluminação interior, que junta a indicação do bem à do belo, e acorda nele as energias da mente e do coração, tornando-o apto para conceber a ideia e dar-lhe forma na obra de arte. Fala-se então justamente, embora de forma analógica, de « momentos de graça », porque o ser humano tem a possibilidade de fazer uma certa experiência do Absoluto que o transcende.


A « Beleza » que salva

16. Já no limiar do terceiro milénio, desejo a todos vós, artistas caríssimos, que sejais abençoados, com particular intensidade, por essas inspirações criativas. A beleza, que transmitireis às gerações futuras, seja tal que avive nelas o assombro. Diante da sacralidade da vida e do ser humano, diante das maravilhas do universo, o assombro é a única atitude condigna.

De tal assombro poderá brotar aquele entusiasmo de que fala Norwid na poesia, a que me referi ao início. Os homens de hoje e de amanhã têm necessidade deste entusiasmo, para enfrentar e vencer os desafios cruciais que se prefiguram no horizonte. Com tal entusiasmo, a humanidade poderá, depois de cada extravio, levantar-se de novo e retomar o seu caminho. Precisamente neste sentido foi dito, com profunda intuição, que « a beleza salvará o mundo ».[25]

A beleza é chave do mistério e apelo ao transcendente. É convite a saborear a vida e a sonhar o futuro. Por isso, a beleza das coisas criadas não pode saciar, e suscita aquela arcana saudade de Deus que um enamorado do belo, como S. Agostinho, soube interpretar com expressões incomparáveis: « Tarde Vos amei, ó Beleza tão antiga e tão nova, tarde Vos amei! ».[26]

Que as vossas múltiplas sendas, artistas do mundo, possam conduzir todas àquele Oceano infinito de beleza, onde o assombro se converte em admiração, inebriamento, alegria inexprimível.
Sirva-vos de guia e inspiração o mistério de Cristo ressuscitado, em cuja contemplação se alegra a Igreja nestes dias.

Acompanhe-vos a Virgem Santa, a « toda bela », cuja efígie inumeráveis artistas delinearam e o grande Dante contempla nos esplendores do Paraíso como « beleza, que alegria era dos olhos de todos os outros santos ».[27]
« Eleva-se do caos o mundo do espírito »! A partir destas palavras, que Adam Mickiewicz escrevera numa hora de grande aflição para a pátria polaca,[28] formulo um voto para vós: que a vossa arte contribua para a consolidação duma beleza autêntica que, como revérbero do Espírito de Deus, transfigure a matéria, abrindo os ânimos ao sentido do eterno!

Com os meus votos mais cordiais!

Vaticano, 4 de Abril de 1999, Solenidade da Páscoa da Ressurreição.

JOÃO PAULO PP. II




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[1] Dialogus de ludo globi, liv. II: Philosophisch-Theologische Schriften, III (Viena 1967), p. 332.

[2] As virtudes morais, particularmente a prudência, dão ao sujeito a possibilidade de agir de harmonia com o critério do bem e do mal moral: segundo recta ratio agibilium (o justo critério dos comportamentos). A arte, diversamente, é definida pela filosofia comorecta ratio factibilium (o justo critério das realizações).

[3] Promethidion, Bogumil, vv. 185-186: Pisma wybrane, II (Varsóvia 1968), p. 216.

[4] A versão grega dos Setenta exprime claramente este aspecto, ao traduzir o termo hebraico t(o-)b (bom) por kalón (belo).

[5] Filebo, 65 A.

[6] João Paulo II, Carta enc. Fides et ratio (14 de Setembro de 1998), 80: AAS 91 (1999), 67.

[7] Este princípio pedagógico foi enunciado pela pena autorizada de S. Gregório Magno, numa carta, do ano 599, escrita ao Bispo Sereno de Marselha: « A pintura é usada nas igrejas, para que as pessoas analfabetas possam ler, pelo menos nas paredes, aquilo que não são capazes de ler nos livros » (Epistulæ, IX, 209: CCL 140A, 1714).

[8] Lodi di Dio Altissimo, vv. 7 e 10: Fonti francescane, n. 261 (Pádua 1982), p. 177.

[9] Legenda maior, IX, 1: Fonti francescane, n. 1162 (Pádua 1982), p. 911.

[10] Enkomia na celebração do Orthrós do Grande Sábado Santo.

[11] Homilia I, 2: PG 34, 451.

[12] « At nobis ars una fides et musica Christus » (Carmen 20, 31: CCL 203, 144).

[13] Cf. João Paulo II, Carta ap. Duodecimum sæculum (4 de Dezembro de 1987), 8-9: AAS 80 (1988), 247-249.

[14] A perspectiva invertida e outros escritos (Roma 1984), p. 63.

[15] Paradiso XXV, 1-2.

[16] Cf. João Paulo II, Homilia da Missa celebrada na conclusão dos restauros dos frescos de Miguel Ângelo na Capela Sistina (8 de Abril de 1994): L'Osservatore Romano (ed. port. de 16 de Abril de 1994), p. 7.

[17] Cf. AAS 56 (1964), 438-444.

[18] N. 62.

[19] Mensagem do Concílio aos artistas (8 de Dezembro de 1965): AAS 58 (1966), 13.

[20] Cf. n. 122.

[21] Conc. Ecum. Vat. II, Const. past. sobre a Igreja no mundo contemporâneo Gaudium et spes, 62.

[22] A teologia no século XII (Milão 1992), p. 9.

[23] Conc. Ecum. Vat. II, Const. past. sobre a Igreja no mundo contemporâneo Gaudium et spes, 22.

[24] Hino de Vésperas, na Solenidade de Pentecostes.

[25] F. Dostoevskij, O Idiota, parte III, cap. V (Milão 1998), p. 645.
[
26] « Sero te amavi! Pulchritudo tam antiqua e tam nova, sero te amavi! » (Confessiones 10, 27: CCL 27, 251).

[27] Paradiso XXXI, 134-135.

[28] Ode à juventude, v. 69: Wybór poezji, I (Wroclaw 1986), p. 63.

© Copyright 1999 - Libreria Editrice Vaticana

A Beleza da Esperança

Os seres humanos   parecem estar cada vez mais sozinhos,   Os tempos atuais   se mostram semelhantes ao tempo de Babel, descrito na Bíblia...